quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Jurassic Park e a ciência arrogante


Você com certeza já viu o filme. Um casal de paleontólogos, um matemático pessimista, um bilionário arrogante, duas crianças e muitos dinossauros. Jurassic Park foi, certamente um dos filmes mais legais que eu assisti na minha infância. A explicação científica, a clonagem dos dinossauros, tudo dando errado, o velocirraptors, o t-rex... O T-REX!!! Como eu vi e revi aquela cena milhares de vezes, e era divertido todas as vezes. 


"Entretenimento não tem nada a ver com a realidade. Entretenimento é a antítese da realidade."

Eu nunca imaginei que esse filme, tão presente na minha infância fosse baseado em um livro. De modo que quando vi a edição linda que a Aleph lançou, com lateral colorida, entrevista com o autor e um posfácio excelente escrito pelo Marcelo Hessel, eu imaginei que seria algo na linha do Alien, da mesma editora, uma novelização do roteiro. Lendo a sinopse, eu descobri que, na verdade, esse livro do Michel Crichton (e sua sequencia, O mundo perdido) serviram de inspiração para os filmes de Spilberg, e que o autor esteve diretamente envolvido na transformação do livro em roteiro de cinema.

O livro tem 525 páginas, e por mais que eu achasse o filme incrível, não conseguia imaginar como uma história de aventura, onde as imagens dos dinossauros gigantescos eram o grande chamativo do enredo, poderia se estender por tantas laudas. Mas, numa promoção feliz da Amazon, resolvi trazer o livro para casa.

E que surpresa maravilhosa. Enquanto o filme do Spilberg se concentra no seu enredo tradicional da importância da família, utilizando muitos recursos visuais, com um suspense constante, feras gigantescas e personagens que precisam aprender a valorizar seus entes queridos, o livro é uma grande crítica à como muitas vezes a ciência é feita atualmente. 

Dividido em 7 iterações (precisei ir buscar o termo no dicionário), o livro segue uma lógica ancorada no estudo da teoria do caos. Iterações são as repetições do padrão, que, na teoria do caos, geram consequências imprevisíveis, que se acumulam em eventos ainda mais imprevisíveis. O começo cria uma rede bem legal de acontecimentos, e me lembrou o início de histórias sobre zumbis, onde as pequenas pistas do que vai acontecer aparecem em diferentes locais e são desprezadas pelos especialistas próximos devido à sua improbabilidade.

"Porque a história da evolução é que a vida escapa a todas as barreiras. A vida se liberta. A vida se expande para novos territórios. Dolorosamente, talvez até perigosamente. Mas a vida encontra um jeito."
Quando a história começa e Ian Malcom, o matemático começa a falar sobre como a ilha está condenada desde o começo, por causa da teoria do caos, e Alan Grant começa a falar sobre o padrão de comportamento dos dinossauros, o livro fica irresistível. Você não precisa ser matemático ou biólogo para se deleitar com a leitura, mas, se for, certamente sua experiência será ainda melhor. 

Minha única crítica é sobre as personagens femininas. Pouca importância se dá a Ellen Sattler, paleobotânica. Sendo uma cientista especialista, era de se esperar que seu personagem tivesse mais participação na história. Além disso, a menina, Lex, ao contrário do filme, no livro é mais jovem e extremamente mimada, sendo basicamente um peso morto e irritante por toda a história, atrapalhando seu irmão que acaba sendo a criança que tem domínio tanto do conhecimento sobre dinossauros quando sobre os computadores. (Mudança excelente, Spilberg!)

Mais do que uma aventura de ficção científica, o livro de Crichton é uma crítica à arrogância da ciência que se intitula um dia capaz de responder à todas as perguntas. Ao poder que os cientistas atribuem a si próprios, tanto de criação quando de destruição. Aos pesquisadores que avançam tão rápido nas suas pesquisas, mas não param um pouco para observar com humildade o ambiente que estudam e o impacto que causam, e perceber que somos tão pequenos e que, talvez a Terra esconda segredos que jamais irá nos revelar.



" Todas as grandes mudanças são como a morte. Você não consegue enxergar o outro lado até estar lá"
 PS.: Lembrando que, caso vc tenha alguma edição velhinha, adquirida em sebo, ou herdada de alguém de algum livro que a Aleph relançou, pode enviar a sua edição velha para doação e ganhar 50% de desconto na compra de uma edição nova e maravilhosa. Só ir em http://www.totalrecallaleph.com.br/ para mais informações. =D

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