terça-feira, 20 de setembro de 2016

O demonologista e as histórias escondidas



Provavelmente o mais polêmico entre os romances da Darkside, o Demonologista (DarkSide, 2015; 328pgs.) ficou conhecido por gerar as mais diversas interpretações sobre sua história, e, especialmente, sobre o seu final.


"O medo - da morte, da perda, de ser abandonado - é a gênese da crença no sobrenatural"

Confesso que, embora tenha lido algumas tantas críticas negativas sobre ele, comprei por motivos de: livro de terror da Darkside. As edições da Darkside são tão caprichadas, que ainda que o livro seja péssimo, vale a pena ter na estante. E esse não foge à regra. A capa maravilhosa, com relevo localizado, a lombada “desgastada”, com um relevo que reproduz esse falso desgaste, as páginas, as ilustrações, a fitinha de marcar página, tudo isso compõe uma das edições mais lindas que eu tenho em casa. Mas as críticas me desanimaram, e o livro ficou 5 meses esperando chegar a sua vez.

E o veredito é que eu não deveria ter esperado tanto. Em muitas das críticas, as pessoas disseram que O demonologista lembrava demais os livros do Dan Brown, com uma versão do Robert Landon estudioso de Satã que precisa demonstrar toda a sua erudição para seguir uma série de pistas pelos pontos turísticos de alguma cidade maravilhosa. Mas não foi isso que eu vi nesse livro.

Para começar com as diferenças, os livros do Dan Brown tem um ritmo absolutamente frenético, toneladas de informações históricas, e pouca ou nenhuma atenção se dá ao psicológico dos personagens. Landon é um personagem sozinho, em que cada aventura segue seu roteiro com uma personagem que sempre é uma mulher que ele acabou de conhecer: bela, sexy, e que, convenientemente, completa o conhecimento que lhe falta. Sua motivação é simplesmente o pedido de ajuda de instituição qualquer que se encontra refém de algum gênio do mal. (Veja bem, apesar do que eu disse até aqui, eu realmente gosto muito dos livros do Brown. Só acho que os estilos são absurdamente diferentes).

E ai temos o professor David Ulmann. Um personagem que já começa te mostrando todos os problemas que circulam a sua vida. Um casamento em frangalhos, uma amiga doente, e uma depressão, com a qual ele lida por toda a sua vida. David tem laços, tem uma história, tem uma motivação, algo mais profundo e mais intenso que qualquer coisa que um mero telefonema da igreja católica poderia provocar.


Algumas resenhas se referem ao ritmo acelerado desse livro também, mas eu, particularmente, não achei o livro tão frenético assim. Concordo com a Raquel Moritz quando ela diz que o Andrew Pyper corta todas as cenas irrelevantes, como viagens e diálogos desnecessários, por exemplo, em prol de uma narrativa mais ágil. Mas o livro também tem cenas de calmaria, onde o estado psicológico dos personagens é descrito com atenção. Onde sofremos e nos angustiamos junto com David, onde conseguimos, por algumas páginas, nos colocarmos no seu lugar e termos a sensação do que é viver toda a vida com a sua melancolia.

Embora superficialmente O demonologista trate da história de um homem entre deus e o diabo, creio que na profundidade, seu objetivo é discutir a depressão, o luto, o sofrimento, as relações de amor e amizade, e como elas são essenciais na nossa vida, com sua ausência deixando o mundo sem cor. Ou cor de turquesa. Chorei rios nessa parte.

O demonologista mescla terror com drama de uma maneira magistral. E ainda nos presenteia com uma história que pode gerar tantas diferentes interpretações que é como se fossem muitos livros em um só. E isso é tão delicioso. Quando um autor consegue escrever uma história que contém tantas histórias diferentes em si. O final ambíguo permite que cada leitor tenha a sua própria interpretação. Esse foi um livro que eu gostei muito mais do que achei que iria gostar. Mais uma agradável surpresa da Darkside books. 

"A guerra contra o paraíso nunca foi travada no inferno, nem na Terra. O campo de batalha está em todas as mentes humanas."

Um comentário:

  1. É...vc começou com um blog sobre livros mas, acho que poderia muito bem escrever na orelha deles... afinal, fiquei morrendo de vontade de ler, mesmo sem nunca ter ouvido falar desse. ^^ Suas dicas são sempre ótimas e você consegue indicar um livro para cada tipo de leitor!

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